quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

hair

Dizem que, para as mulheres, o simples acto de cortar o cabelo pode significar uma reviravolta na vida inteira. Resolvi acreditar nisso, resolvi. E assim, num piscar de olhos, num fechar de tesoura foi-se uma mecha do meu cabelo, um pedaço da minha demência, uma grande dose do meu pessimismo. Assim, enquanto todas as minhas pontas estragadas sujavam o chão, eu ficava mais e mais e mais limpa de maus pensamentos, de frustrações, de mortes, de pesadelos, de problemas. 
Ela varreu os pedaços de cabelo para o caixote. Eu, por enquanto, escondi os meus pedaços maus debaixo do tapete. Não desapareceram, eu sei, estão lá escondidos à espera de um pequeno movimento para sair. Mas EU não quero mais saber. Eu não sou aquilo que me tornei. Eu sou isto. Sou frases inteiras e pensamentos  com sentido. Sou gargalhas e olhos brilhantes. Eu sou isto, sou simpatia a mais, sou alegria, sou vida.

O cabelo volta a crescer, mas os meus pedaços maus nunca vão ser maiores do que EU!

And in 2011, let's...

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Desculpe

Senhor Pai Natal. Desculpe menino Jesus. Desculpem-me todas as figuras do presépio, mas hoje ela é a única em quem eu consigo pensar. *

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Para mim, Lisboa é:

- 341 km de distância
-  Benfica
- Estudar com ela no starbucks, a ouvir músicas natalícias  e ver o Rossio e o Castelo de S. Jorge com os olhos dela.
- saborear o melhor strogonoff do mundo, mesmo que seja só na minha cabeça.
- Saber que Lisboa está a afundar e ter a certeza que há um ser que não tem guarda-chuva.
- Assistir às aulas de mestrado e quase conseguir ver os professores dizerem coisas estranhas e alguém levantar o sobrolho.
- Rir à gargalhada com cada peripécia no autocarro e gozar com a ajuda falhada a pessoas em apuros.

- Carnaxide
- Ir a janela da cozinha e olhar para Sintra, com os olhos dela.
- Saber que há quem ache que sou chinesa/ coreana/ japonesa
- Criar uma imagem da D. Cristina na minha cabeça mesmo sem nunca a ter visto.
- Rir-me muito quando quase vou ao Pingo Doce e a menina pergunta se eu quero "ensacar".
- Perceber que não me cheira a Natal porque só consigo pensar que é lá com ela que vou estar e não aqui.

Para mim Lisboa é mais próxima que o Porto, são saudades sem fim, é um sonho que eu já nem sei se consigo realizar.

sábado, 11 de dezembro de 2010

"We spend our whole lives worrying about the future, planning for the future, trying to predict the future, as if figuring it out will cushion the blow. But the future is always changing. The future is the home of our deepest fears and wildest hopes. But one thing is certain when it finally reveals itself. The future is never the way we imagined it."
Grey's Anatomy

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Incongruências

Eu não consigo entender. Se tenho 20 anos, sou muito nova para trabalhar e preferem pessoas com mais experiência. Se tenho 27 começo a ser muito velha para me empregarem mas o topo da carreira é aos 40 anos.
Estudo, tiro uma licenciatura para ter o emprego que gosto e ganhar melhor, mas acabamos todos nas caixas dos hipermercados e a ganhar salários mínimos.
Aprendo línguas, invisto na minha formação mas ninguém vai, um dia, ler o meu currículo. Se tenho cunhas, arranjo um trabalho mas todos acham que não tenho qualidade porque entrei com cunha. Se não tenho cunha até posso ser bom mas fico desempregado. 
Uns ganham 1500 euros por mês, outros passam fome se não tiverem a ajuda dos pais. A minha dúvida é: de que me serve ter um curso superior, fazer as coisas bem, gostar daquilo que faço se não tenho pais ricos, o meu padrinho não é o primeiro ministro e o meu avô não é dono da Sonae?
Eu não consigo. Juro que não consigo entender. Sou só eu ou há aqui qualquer coisa errada?

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Hide

O único senão de nos escondermos dos problemas é que mesmo que mais ninguém nos encontre, eles vão sempre esconder-se connosco.



You can run, but you can't hide.


terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Mecânica

Sempre quis ser mais Mecânica do que Humana. Mais fria. Mais seca. Mais vazia. Sempre quis ser pouco ligada a pessoas. Sempre quis ser menos pessoa. E aí não me desconcentrava. Não me preocupava. Não sentia. E aí não chorava. Não me perdia. Não me deixava levar. E aí não me desiludia. Não sofria. Não chorava. Não me irritava. Não me apaixonava. E aí não pensava. Não me cansava. Não desistia. Não seguia o caminho mais longe para casa, só para estar sozinha. Não perdia a noção dos lugares. Não fazia perguntas sem sentido. Não me importava.Não ouvia. Não falava. E aí não conhecia. Não sorria. Não respirava o ar pesado. Não imaginava. Não me aproximava. Não me despedia. Não desejava. E aí? Não era. Não fazia. Não entendia.

Sempre quis ser mais Mecânica do que Humana, mas de todas as coisas que eu quis esta é a única que nunca serei.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

J.

-Adoro estar aqui na cama, com esta chuva lá fora.
- Não pensas nas pessoas que não têm casa, pois não?

Ela é assim. Muito mais inteligente que eu. Muito mais crescida. Muito mais bonita, muito mais. Vê com mais clareza que eu. Conhece mais coisas que eu. Formula opiniões acerca de assuntos que eu nunca sonhei existir. Ela é assim, muito mais. E só ela parece não perceber que, de nós as duas, a formiguinha sou eu.

domingo, 28 de novembro de 2010

Não, não há contos de fadas. Não há príncipes em cavalos brancos. Não há princesas encantadas. Não há amores eternos. Não há felicidade plena. Não se morre por amor. Não se vive para sempre. Não se consegue tudo o que se quer. Não se realizam todos os sonhos. Não há heróis que nos salvam dos maus. Não há maus. Não há bons. Há bons que são maus. Há maus que têm algo de bom. Há fome no mundo. Há homens, Mulheres. Há amores que se apagam. Paixões que secam. Há momentos de felicidade. Há quem mate por amor. Há quem lute pelo que quer. Há quem morra a sonhar. Há quem viva, e isso (ainda) é o mais importante.


sábado, 20 de novembro de 2010

Everything is gone: the spark is gone, the closeness is gone, only love has not disappeared yet. But you'll never change, I'm tired of changing for you, and sometimes love is not enough.

The End.
Sophie

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

(Re)Play

É como aquela música que guardo no MP4 desde 2007. Que ouvia dez vezes ao dia, sete dias por semana. Como aquela melodia que conhecia de cor, como aquela letra que me dizia, que dizia de mim. É como aquela música que me fazia recuar todas as outras, avançar todas as outras só para a ouvir, para respirar. É como ela que me arrepiava no segundo em que clicava no play. É como ela: gastou-se e eu passei a cantarolar mecanicamente, vulgarmente, passei a ignorar, a clicar no stop. E é como ela, que tempos depois me voltou a tocar e me mostrou que mesmo estando gasta não deixou 
de ser minha.


quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Não voltes, Não voltes, Não voltes!

Dizem que quando amamos muito uma pessoa só queremos que seja feliz, mesmo que isso nos faça sofrer. Eu acredito. Acredito que é preciso saber largar, que é preciso abdicar por um bem maior. Eu acredito. Eu vou cerrar os olhos com todas as minhas forças, todos os dias. Eu vou repetir incessantemente, todos os dias. Eu vou morrer um bocadinho, todos os dias. Mas Eu vou ter outro bocadinho a explodir de alegria, todos os dias.


Era até 04 de Agosto de 2011 e tornou-se Pouco depois de O4 de Agosto de 2010.
"Voa e leva-me contigo."

sábado, 30 de outubro de 2010

É como se o som ferisse, como se o silêncio doesse. É como se entrasse em pânico sempre que falasse, como se não conseguisse responder, como se não tivesse paciência. É como se não soubesse explicar, como se não fizesse sentido, como se não lesse, como se não fosse capaz. É como se ignorasse, como se não se importasse, como se não fosse nada. É como se não quisesse, como se não existisse, como se não soubesse verbalizar. É como se só tu fosses entender, como se nem tivesse que contar.


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Perfect Match?

                                   Sweet?                                  STRONG?                       Funny?


           Diferent?                                 Fighter?                                         HONEST?


                                                             adventuress?
 Who cares? 
In the end, I'm all of them.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Eu sou dela, ela é minha!

Nunca conheci muito bem a minha cidade, para ser sincera acho que nunca quis. Vivo aqui desde que me conheço: cresci, estudei, fiz amigos aqui mas nunca conheci mais do que os poucos quilómetros que separam a minha casa do centro da cidade. Nunca conheci pessoas, nunca me conheceram a mim e eu gostava. De rir e deixar o meu espírito fluir sem ter de olhar por cima do ombro, sem ter de endireitar as costas e fechar-me dentro de mim por ter que manter a postura. Sempre achei que nesta cidade só existia Agosto e as festas da altura, que na maior parte das vezes não eram interessantes o suficiente para me arrancar de casa. Conheci melhor o Porto, é verdade, mas sempre gostei de cá viver, porque era bom voltar a casa à noite, cansada. 
Quando, um dia, conheci tudo melhor: todos os cantos, todas as ruas, todos os problemas, as coisas boas, deixei de gostar. Conheci muita gente, conheciam-me também. O meu espírito encurralou-se, de vez, na minha postura séria. Tantas vezes representei aquilo que não acreditava, aquilo que não pensava. Outras houve em que me entreguei de corpo e alma, em que me extasiei, não nego, mas de tanto conhecer tornei-me incapaz de admirar. Não me arrependo. Cresci mais do que um dia esperei, aprendi coisas que nunca imaginei.
Acho que vejo melhor as coisas, agora, à distância. Agora que voltei a encantar-me com as luzes que há noite preenchem a estação, que o meu espírito voltou a fluir. Voltei a defender esta cidade com toda a força, voltei a admirar, a pertencer. Agora sei que a Trofa é muito mais que as festas de Agosto, leio todas as notícias que encontro, formulo opiniões . E é agora que estou tão mais longe, que me sinto estranhamente mais perto.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Maria

"Não posso sair do quarto, não posso falar ao telemóvel, não posso fazer nada e ainda tenho que deixar a Ana dormir na minha cama, “para aprender a ser bem-educada com os convidados”, diz o meu pai. Não acho normal, ela é que faz asneira e eu é que fico de castigo."

Um dia ainda te vou reconstruir, Maria.

sábado, 2 de outubro de 2010

"I'm thankful for my years spent with this family, for everything we shared, every chance we had to grow. I'll take the best of them with me and lead by their example wherever I go. A friend told me to be honest with you, so here it goes. This isn't what I want, but I'll take the high road. Maybe it's because I look at everything as a lesson, or because I don't want to walk around angry, or maybe it's because I finally understand. There are things we don't want to happen, but have to accept. Things we don't want to know, but have to learn. And people we can't live without, but have to let go."
CM

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Fuga

Percorro a estrada estreita, devagar. O cheiro a terra queimada encontra o meu nariz e aconchega os meus pulmões tão intensamente que me sinto sufocar. As pedras enormes e majestosas estão cobertas por uma camada negra, fina. Tão fina que iria desaparecer, tal qual um  grão de areia que, em vão tenta permanecer no chão num dia ventoso. As árvores despidas e frágeis são agora carvão e no lugar das plantas estendem-se restos de vida no chão. 
Ao chegar lá tudo é supreendentemente diferente. Tudo parece intacto, perfeitamente coordenado. Nas estreitas ruelas de paralelo não passa mais do que um carro. Todas elas são iguais e delicadamente diferentes. A vizinha do primeiro andar comenta com a da frente a novela do dia anterior enquanto estende a roupa. Assim, na varanda, como se nada mais importasse naquele momento. Como se tudo fosse simples e a felicidade dependesse daquela roupa, daquela conversa trivial. A Maria passa a correr no meio das casitas de pedra. "Não há muitos carros não é Maria? podes estar à vontade", diz-lhe a primeira senhora enquanto continua a estender a roupa. A Maria sorri, sacode os cachinhos loiros e desata a correr novamente. 
Sentadas nas escadas do Pelourinho, mais quatro vizinhas discutem animadamente um qualquer assunto que não fui capaz de entender. E eu passo, olho e delicio-me com a vista de tirar o fôlego, com os poemas espalhados pelas ruelas, com a beleza e a simplicidade  de quem não precisa de mais nada para ser feliz.  

sábado, 25 de setembro de 2010

Pedra

. suportar conseguir as não já por altero as que eu sou outras, assim mesmo são
elas vezes Umas. esquerda a para direita da, baixo para cabeça de, contrário ao coisas as vejo vezes Às

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

S. Dali



Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
 Mas reconheço, ao medir-me, 
Que tudo isso é pensamento, 
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos, 
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada.
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Fernando Pessoa





sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Devaneios

Esta noite dei voltas e voltas na cama e o sono teimava em não chegar. Não sei se foi do café ranhoso se da má disposição que me acompanhou todo o dia, a verdade é que o galo da vizinha já cantava quando eu, finalmente, adormeci. Até lá, pensei em tudo o que se possa imaginar, analisei a luz verdinha da box ao pormenor, levantei-me três vezes, voltei para a cama e pensei mais, dei mais voltas na  cama.

Não consegui encontrar um motivo para ter vindo aqui parar, a este mundo, a isto que sou ou digo querer ser, que me dá um brilho no olhar e que ao mesmo tempo não sei explicar. Lembro-me de ser pequenina e ficar colada em frente à televisão sempre que, na SIC, começava os "Jornalistas". Adorava as histórias, as correrias, acho que me identificava e não sabia. Recordo-me de um episódio em especifico: havia pessoas barricadas num qualquer edifício que eu arriscaria ser o Rivoli embora tenha quase certeza que não. Bem, não sei bem se é uma recordação se um sonho, mas se não foi sonho as pessoas que se barricaram lá em 2006 devem ter visto o mesmo episódio que eu.

Eu que já fui coroada rainha dos erros, que me ri quando num teste vocacional me disseram que era dotada para a comunicação vim aqui parar. Pior, adoro ter vindo e não sei porquê. Nunca foi um sonho, como tantos colegas disseram quando entrei para a faculdade, aconteceu. Se calhar esteve lá sempre e eu nunca dei por ele até nos esbarrarmos, mas para ser absolutamente sincera, nem sei quando isso aconteceu.

Olhando bem ao pormenor, eu não podia ser outra coisa. Médica era completamente impossível. Odeio hospitais e o seu cheiro que nos consome as entranhas e não sai antes do terceiro banho. Como advogada seria um desastre. Eu não sou séria, nem tão pouco me levo a sério. Não consigo passar mais de cinco minutos sem dizer uma parvoíce, sem fazer uma cara estranha, um som estranho. Imaginem se isto me acontecesse no meio do tribunal. Definitavemente não. Não podia ser cozinheira porque detesto cozinhar. Não podia ser cantora porque, felizmente, percebi desde cedo que há pessoas que não nasceram para cantar e que eu sou uma delas. Policia? Policia adorava ser, adoro policiais. Mas há um pormenor importante que explica, por completo, a minha impossibilidade de ser policia: eu adoro os policiais americanos, as perseguições americanas, as investigações americanas e nós estamos em Portugal onde eu provavelmente acabaria por passar multas de trânsito. Não. Sou pouco delicada para jardineira, sou muito desastrada para trabalhos laboratoriais minuciosos. Actriz? Actriz até gostava e se calhar até me saia bem, mas não. Está demasiado na moda ser actriz, toda a gente quer. E depois há a questão da fama, não gosto. Gosto muito de viver a minha vidinha sem ninguém me conhecer, fazer o que me dá na real gana sem me preocupar se está alguém a ver ou não. 

É que não me vejo mesmo a fazer mais nada. Não quer dizer que não possa fazer porque sou capaz de aprender qualquer coisa, de fazer qualquer coisa. Mas isto é diferente, preenche-me e eu não sei como, deixa-me feliz e eu não sei porquê. Acho que ainda há esperança para mim porque mesmo não sabendo porque vim aqui parar, sei perfeitamente porque é que não fui parar a outro sitio qualquer.

P.S- Esta sou eu não poética, não-concisa, não-séria.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

"Ah, deixem-me sossegar.
Não me sonhem nem me outrem.
Se eu não me quero encontrar,
Quererei que outros me encontrem?"
Fernando Pessoa

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O António

"E Então a família?"

Era assim todas as vezes que ia à mercearia. O senhor Manuel, já de oitenta anos, conhecia o bairro inteiro, alguns desde criança. Tratava-os pelo primeiro nome, sabia os gostos de cada um, preocupava-se.

"Está tudo bem, graças a Deus. A Marianinha já vai este ano para a escola e o Miguel está no quinto ano."

"Já me tinha esquecido como eles crescem rápido. E o António?"

Ela arrumou as compras apressadamente e, já na porta, murmurou um inaudível "está igual" antes de se despedir. Lá fora chovia. Chovia desesperadamente. Ainda só tinha dado dois passos e já estava encharcada. Correu para o único sítio onde não havia edifícios, onde não havia nada. Largou o saco das compras e chorou até lhe secarem as entranhas, gritou até lhe faltar a voz.

E ali, onde ninguém a podia ouvir, onde as lágrimas se (con)fundiam com a chuva e os gritos eram abafados pela tempestade pensou na Marianinha que não podia mais ver aquilo, no Miguel, cada vez mais revoltado.

Ali, onde ninguém a ouvia, gritou, chorou e pensou no António. Jurou que nunca mais o ia perdoar, que nunca mais ia esconder as marcas de algo que ele justificava com amor. Ali, decidiu que nunca mais o ia proteger, porque por mais desculpas que pedisse, o António ia ser sempre igual.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Doce Lima

O autocarro parecia fazer de propósito para se atrasar. Tu, do meu lado direito, ias agarrando o meu braço, fazendo festinhas na minha mão, comungando de mim o mesmo conforto que me davas a beber. As senhoras, umas mais velhas que outras, iam esperando, limpando o suor da cara e só nós pareciamos não nos importar com o atraso. Desviavas-te sempre que mais uma senhora se aproximava para confirmar a hora do autocarro. Eu vou contigo, vais ser a minha coragem e eu prometo, em troca, cuidar de ti. Vou, porque preciso encontrar o que não conheço, viver o que não vivi, sentir o que nunca achei, conhecer o que nunca vi. Vou, porque te levo comigo, porque nunca mais quero ver o teu olhar brilhante seguir-me e sussurar-me um gosto muito de ti, enquanto o teu corpo, imóvel, vê o meu afastar-se. Vou, porque não quero mais responder-te com um apressado , como quem corre e olha o relógio sem tempo para perceber o significado. Vou porque mesmo que o autocarro se atrase todos os dias nunca vai ser o suficiente para te fazer perceber o quanto eu (também) Gosto de ti.

sábado, 31 de julho de 2010

Dr.

Somos como eles: práticos, certeiros, ambiciosos. Queremos ajudar, melhorar,curar os males alheios, como eles. E como eles acabamos por ferir, maltratar, matar. Queremos resolver os problemas da alma, remendar, costurar situações como eles remendam, costuram e resolvem  todo o corpo. Eles de objecto cortante nas mãos, nós de caneta inquieta entre os dedos. Ambos arruinamos, destruimos, matamos vidas quase tantas vezes como as que conseguimos curar. Ambos as temos nas mãos, queremos descobrir corações, perfurar entranhas em busca de explicações. Ambos lutamos ferozmente contra o tempo, damos o que temos, o que nos falta. Damo-nos de corpo e alma. Damo-nos para que sempre que, às nossas mãos, a vida se torne cinzenta possamos, como eles, dizer que fizemos tudo o estava ao nosso alcance.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O pijama às riscas

Abriu a mala vermelha, guardou os sapatos, os chinelos. Do lado direito, religiosamente dobrado, pousou o pijama. O pijama às riscas que a mulher, já falecida, lhe tinha oferecido no último natal. Em cima, o casaquinho de lã, as calças de fazenda desbotada, a camisa, a gravata e o casaco que ainda tinha na lapela aquela flor. Arrancou o retrato da mesinha de cabeceira. Aquele retrato. O retrato da última vez que tinham sido felizes. Guardou-o noutro bolsinho da mala.
Queria sair dali, daquela terrinha que já nem era santa. Queria viajar, encontrar Aquele lugar perfeito. Longe da coscuvelhice das vizinhas, longe das guerras de palavras e trocas de galhardetes que só serviam para afastar as pessoas. Queria encontrar Aquele lugar perfeito, onde não o julgavam sem o conhecer, onde não havia insultos, interesses escondidos, onde não o fariam pagar pela opinião dos outros, onde não o puxavam para uma guerra de que não fazia parte, que nunca quis comprar. Onde o viam: simples, grisalho, de pele enrugada e barba mal desfeita.
Percorreu várias cidades e nenhuma era Aquele lugar. À noite, escondia-se numa qualquer pousada, não muito cara. Abria a mala tirava o retrato, o pijama às riscas, os chinelos, as meias quando fazia mais frio. Vestia-o, deitava-se e quando acordasse o pijama voltaria ao lado direito da mala. O retrato ao bolso mais pequenino.
Naquela noite, teve dificuldade em vestir o pijama às riscas, não tirou da mala os chinelos, nem as meias mas permaneceu agarrado ao retrato. Deitou-se, suspirou profundamente e ali estava. Aquele lugar perfeito. Não tinha a mala vermelha, o casaco de lã nem os chinelos. Mas tinha tudo o que precisava para ser feliz: o retrato e o pijama às riscas.

domingo, 4 de julho de 2010

I never loved him. I thought I did, but I didn't. I think I wanted to love him so much that I didn't realise that I was lying to myself. I never loved him, never. I loved what he made me feel, what he may feel for me, but I didn't love THE person. I loved me when I was with him. It's selfish, I know, but at least, I'm not lying anymore.

Sophie

segunda-feira, 21 de junho de 2010

22

Nunca entendi muito bem a magia do dia de aniversário. Afinal, é só mais um dia normal que, por acaso traz atrelado mais um ano para a nossa colecção. Nunca fui muito de festas, de bolos de aniversário, de presentes. O estranho é que conto ansiosamente os dias até à chegada do meu. Olho o relógio e volto a olhar, vezes sem conta, até ver exactamente aquilo que quero: meia noite. 
Viro-me na cama, nervosa e começo a sentir um friozinho na barriga. A luz acende-se, o telemovel vibra e eu dou um salto na cama. Esqueço o nervosismo e mergulho nas palavras dos outros que, naquele momento, as fizeram para mim. Pouso o telemovel e ele volta a tocar e a tocar e a tocar. Vou dormir tarde e não me importo, nao vou acordar tarde, nao naquele dia. Levanto-me cedo, corro a ver se mais alguém se lembrou de mim. Rio, dou gargalhadas efusivas, digo mais disparates que o costume.  Corro a ver as minhas páginas das redes sociais. Acumulam-se frases de parabéns mais ou menos pessoais. Gosto de pensar que se lembraram de mim, assim, lembraram porque em algum momento fui marcante, porque sou eu. Gosto de pensar assim, mesmo sabendo que provavelmente foi so calendário que avisou. Não me importo quantos anos vou somando, não me importo com os presentes que vou recebendo, não me importo com nada. Mas hoje percebo. A magia não está nas velas, nos bolos. Magico é este calor que sentimos cá dentro, esta alegria que quase nos faz explodir, é este sentimento de que somos importantes para alguém, de que pelo menos hoje, toda a gente se lembrou de nós.

E depois das 23 horas, o meu telemóvel ainda não se cansou de tocar*

Obrigada!

sábado, 19 de junho de 2010

My prince,

Sometimes we can't write anything, we can't talk or make a logical speech. Sometimes we just smile, we just kiss, we just hug, or we simply don't do anything. Sometimes we're just busy, walking around, living our lives.

Sorry if I've been distant, but I'm just doing to you, what you always did to me. I'm hurting you.

 Your almost lover,
Sophie

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Gente

O zumbido furava-lhe cada vez mais a cabeça. A dor começava a instalar-se, ao mesmo tempo que ia cerrando os punhos, ainda, pousados sobre a mesa. "O senhor da esquina hoje faltou ao trabalho", "e sabe, a dona Amélia cortou relações com a filha", "a Mariazinha engravidou do namorado". Estava farta. Levantou-se e foi apanhar ar. Mas a vida dela não lhe chegava? Tinha mesmo que falar, comentar, acrescentar e inventar detalhes sobre a dos outros? Recusou-se a ouvi-la reproduzir os pormenores que achava saber sobre quem amava tanto. São pessoas, porque teimava em fazê-las parecer objectos da sua coscuvelhice desmedida? Não tem amigos, não admira. Enervava-a tanto que nem tinha força para descrever. Enervava-a a burrice, a mesquinhice, a falta de inteligência, o excesso de conversa que dava a toda a gente, sem se preocupar se estava a magoar alguém. Não sabia o que dizer, dizia o que não sabia.

domingo, 13 de junho de 2010

Elsa Carvalho dos Santos Gouveia

"Hey, soul sister
I don't wanna miss
A single thing you do"

E às vezes, um euro torna-se na maior fortuna do mundo*

quarta-feira, 26 de maio de 2010

And I always run to the mailbox, hoping that the letter is not there.
And I always run to the mailbox.
And I always run.
Always.

It's not like I have a choice!

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Sempre foi louca por ele. Fazia-lhe surpresas, não conseguia controlar o sorriso quando o avistava ao longe. Corria-lhe para os braços, apertava-o com força e descansava a cabeça no ombro. Ele segurava-a leve, brevemente e deixava-a. Corria a falar com os outros, que a ela, sempre lhe pareceram mais importantes para ele.
Gostava dela, ela sabia que sim. Ele via-a demasiado, tinha-a demasiado e esquecia-se demasiado, trocava-a demasiado.
Não controlou. Começou a afastar-se dele. Já não estava sempre disponível, não dizia que o amava. Embora fosse verdade, esperava sempre que ele tomasse a iniciativa e respondia-lhe com um simples "Eu também".
Ele começou a dizê-lo com mais frequência. Queria vê-la, queria senti-la. Os abraços tornaram-se mais demorados e era ela quem se afastava primeiro. Agora que não a tinha pedia-lhe para não lhe fugir. Era tarde de mais, ela já lhe tinha escapado por entre os dedos sem ele, sequer, ter dado conta.

sábado, 22 de maio de 2010

Linha

Podia chorar, pôr as mãos na cabeça, gastar o chão de tanto andar de um lado para o outro. Podia gritar, descarregar em quem não merece e arrepender-me no momento seguinte. Desculpa, não te vou responder, não consigo, não quero falar com ninguém. Podia mentir-te, fingir que não aconteceu e sorrir como sempre. Podia, podia mas não posso, é mais forte do que eu e não ia mudar.
Deixas-me, por favor?
Hoje quero ser só eu e isto que sinto.
Só hoje!

terça-feira, 18 de maio de 2010

E eu...


Que sempre gostei de flores. Que sempre gostei de amarelo.
Gosto ainda mais. Gosto ainda mais!

domingo, 16 de maio de 2010

My dear,

Here I am. Again, I know. It's just... complicated. I lost my strength, I lost my joy, I lost my shining eyes, my smile, my confidence, I don't even know where I put my courage. Today, I thought that, maybe, they never existed. I thought that, maybe I was always this frustration, this tiredness, and I just didn't noticed. But it's ok, my dear. It's really ok. Today I got nothing, but tomorrow is another day, and I'll be able to conquer the world.

Love,
Sophie

quinta-feira, 13 de maio de 2010

De onde me saem todas as letras que se atropelam em palavras? De onde, se sou vazia de pensamentos, de emoções. De onde, se a minha cabeça está vazia. Do coração? Não, do coração não. Ele nem sequer existe, não está lá. Não sente, nao bate. E tudo isto nem sequer faz sentido. São tudo mentiras, doces mentiras minhas. Eu não acredito. Hoje, não acredito, hoje não leio, hoje não faz sentido, hoje não parece meu. Hoje, eu não sou o que pareço e a alma não se vê. Porque se perdeu, porque tenho o corpo exausto de mais para a querer procurar.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

There's always a little truth
behind every "Just Kiddind"
____
A little Knowledge behind
every "I don't Know"
_____
A little emotion behind
every "I don't care"
_____
And a little pain behind every "it's ok"
_______________

domingo, 9 de maio de 2010

- É uma mulher linda, Sabia? Faz tudo o que quiser com os homens.
- Obrigada, mas não é bem assim.

Não era, mas ele insistia. Já não sabia o que fazer para fugir àquele olhar. Escondia-se por detrás do sorriso, brincava com as mãos e ele continuava com o olhar hipnotizado.
Naquele momento soube que o tinha nas mãos, soube que ele sim, faria tudo o que ela quisesse. E tudo seria perfeito, não fosse ele o único a cobiça-la, o único que ela nunca iria querer.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Sometimes we just need a minute to cry suffocated and compulsively. Everything will become lighter and we will be able to smile again.


And I've never been so proud of my loves <3



terça-feira, 27 de abril de 2010

Where they sell?

I know they're free,
but some people will always try to buy them!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Pedacinhos de mim

Gosto de pensar que ninguém vê as coisas que escrevo, que ninguém as entende. Gosto de pensar que são só minhas. Gosto de pensar que não as roubam de mim e lhes deturpam o significado. Gosto de ser eu a mostrá-las a quem é importante para mim. Gosto que eles sim, entendam. Que me abracem, que distribuam miminhos quando percebem o fundo de verdade das minhas histórias. Gosto que se riam quando reconhecem a ironia de certas palavras.
E, por cada vez que mas roubarem eu vou criar mais. E mais. E mais. Podem roubá-las mil vezes que vão continuar a ser só palavras. Que nunca as vão perceber como eles. Que nunca as vão sentir como eu. Porque são minhas. Pedacinhos de mim*

quinta-feira, 22 de abril de 2010

terça-feira, 13 de abril de 2010

My dear,

Today I made a decision. I deleted you from my phone, I deleted you from my computer, I deleted you from my clothes, from my skin, from my diary, I deleted you from everything I have. Now, it's easy. I just need to delete you from me.
Love,
Sophie

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Keys

Nunca teve muita sorte com relações amorosas. Nunca soube escolher bem, ou talvez estivesse destinada a atrair o pior da espécie masculina. Todas as vezes parecia ser diferente, e todas as vezes terminavam da mesma maneira. Com o tempo foi arrumando cada um deles numa pequena caixinha no canto mais escondido do coração. Lá, não chegava oxigénio, nem o sangue se atrevia a pulsar. Fechava-a a sete chaves e prometia não mais abri-la. Jurava que ia ser diferente, que não ia escolher errado outra vez. Depois, encontrava alguém que lhe fazia esquecer tudo, que lhe fazia querer viver tudo, a qualquer preço. Alguém que mais cedo ou mais tarde ia parar à caixinha que, de novo, era fechada a sete chaves.

Tinha acabado de fechar, pela enésima vez a caixinha. Refugiou-se nele que, como todas as outras vezes, a abraçou, a escondeu do mundo. Ele sim, era diferente. Não havia nele nada do que via nos outros, que tantas vezes a magoaram, e talvez por isso, não havia nele nada que a atraísse.

Atraiu. No topo do desespero atraiu. A intensidade com que lhe rasgava a roupa era quase tão grande quanto a necessidade de a ter. Ambos se deixaram levar por um momento erradamente certo em que libertavam, fugazmente, as frustrações um no outro.

Pela manhã, enquanto recolhia a roupa, ainda espalhada pelo chão, teve a certeza que não tinha sido amor, não tinha sido paixão. Naquele momento teve certeza que nem amizade podia voltar a ser. Agarrou no que restava dele e guardou na caixinha do coração. Fechou-a, mais uma vez a sete chaves, mas desta vez não havia ninguém em quem se esconder.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Dear Rose,

Yesterday, I thought of you. I remembered the last time I saw you, I remembered your voice, I remembered your clothes and I could almost feel your perfume. I thought about how everything would be if you were still here. If you still play with me, if she still had you. I am sure that everything would be better, much better. Yesterday, I remembered that day. We should have spent it together, but no, it was different. I don't even slept at home. I remembered when they told me that you were not good, that you may not resist. I didn't believe it. I never told anyone, but I couldn't sleep that night. I spent the whole night praying. I couldn't lose you, but I did. I didn't know, but you were gone before I fell sleep. It's not fair. These days are more difficult, you know? But we're fine, we think of you every day, we miss you every day, we still love you every day.
Love,
Sophie

quarta-feira, 31 de março de 2010

quinta-feira, 25 de março de 2010

Amor

Esperava por ele no banco de sempre, no jardim de sempre, à hora de sempre. Ele chegava com a flor de sempre e beijava-a. Um beijo sempre diferente, sempre mais apaixonado, mais intenso. Afastava-lhe, delicadamente, os cabelos dos olhos. Acariciava-lhe os lábios, ainda inchados, e ficavam ali. O silêncio confortável, os olhares cúmplices, os sussurros ao ouvido provocavam-lhe o arrepio de sempre. Matavam o tempo, inventavam mil histórias só para estar lá, no banco de sempre, à hora de sempre. Para se amarem como sempre.

Naquele dia ela, como antes, esperou por ele. Quando chegou, não lhe trazia a flor de sempre, não a beijou. Afastou-lhe o cabelo dos olhos enquanto lhe quebrava o coração. Ela, agarrou numa pedra daquele jardim e guardou-a no lugar do coração.

Hoje, não suporta demonstrações de amor, não aguenta os excessos de amor, não acredita no amor. Mas ainda hoje, quando os seus sapatos de mulher bem sucedida passam pelo banco de sempre, no jardim de sempre. Quando vê os olhares cúmplices de quem, agora, mata o tempo para ali estar, sente o arrepio de sempre. Lembra-se de quem vai amar para sempre.

sexta-feira, 19 de março de 2010

κακή διάθεση

Porque é que voltas? Porque é que insistes voltar quando já me exorcizei de Ti. Porque é que me tiras o sono e me inundas em frustração? Porque é que me fazes querer apertar as mãos com força contra os ouvidos para não ouvir os gritos das paredes? Porque é que me esvazias o olhar e me enches demasiado o pensamento? De nada, porque é que o enches de nada? Porque é que me tornas desconfiada? Porque é que me fazes sentir invisível? Porque é que já nada me satisfaz como antes? Porque é que já não me sinto como antes? Porque é que obrigas a minha alma a chorar sufocadamente quando nem consigo expulsar uma lágrima? É esse o problema, não é? O meu corpo devia deixar-se usar pela alma. Devia. Devia deixa-la chorar de verdade. Devia deixa-las lavar-me de Ti. Um dia quando Te perceber vou fechar os olhos, cerrar os punhos e nunca mais vou deixar-Te entrar em mim.



quarta-feira, 17 de março de 2010

"suddenly..

...my life was all about timing. My past, coming back way too fast, and my future taking way too long to come home."

in Sex and the city

domingo, 14 de março de 2010

"O fim duma viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre."

José Saramago

BE*m mais importante do que Saramago possa imaginar.
BE*m mais!

sábado, 13 de março de 2010

Nunca!

Não pode viver sem ela. Não pode, não quer, não ia conseguir. Não depois de tudo. Não depois de estar sempre lá. Não depois do ampáro, do carinho, do sorriso, dos dias, dos anos, da protecção, das gargalhadas, das histórias. Não pode. Nem tão pouco imaginar. Seria arrancar-lhe o coração do peito a sangue frio. Seria Cortá-lo em mil pedaços e mantê-lo preso ao corpo, assim, sem vida. Não lhe falem em destino, não lhe falem em tempo, muito menos em vida. Não falem. Não vai acontecer, não vai sequer imaginar que possa acontecer. Nunca, Nunca, Nunca.


Tinha medo, tem medo, vai sempre ter e nunca vai admitir. Nunca.
Assunto encerrado.



quinta-feira, 11 de março de 2010



...

domingo, 7 de março de 2010

Expressões

Estava a pouco mais de um metro de distância dela. Olhava o infinito, tentava esconder o cansaço que as quase oito horas de trabalho tinham feito com o meu corpo. Ela conversava com uma menina sobre um qualquer assunto da actualidade ou da própria vida. Não percebi bem, e para ser sincera estava demasiado exausta para querer perceber. Despediram-se. Ao longe ainda a ouvi gritar um "Parabéns pela simpatia". Olhou-me durante apenas dois segundos e escapou-me um sorriso. "A menina também é muito simpática". "Eu?", como poderia ela saber da minha simpatia sem termos trocado uma palavra. "Sim, ri com os olhos."

Nunca a tinha visto, não me lembro da voz e nem tive tempo de lhe perguntar o nome, mas aquela mulher de cabelo grisalho disse-me uma das coisas mais bonitas que já ouvi sem eu ter feito nada para merecer.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Orgulho

Gosto de pensar que sou forte. Mesmo que seja só uma elegante camada que a qualquer momento deixa escapar toda a fragilidade que quero esconder. Gosto de pensar que sou assim. Gosto de pensar que nunca querer pedir ajuda é só mais um sinal de que luto por aquilo que quero. Que luto, luto com todos os sentidos e consigo. Sozinha. Porque mereço.

Proibi as lágrimas de me escaparem em frente de quem me faz chorar. Proibi. Proibi e vou proibir mil vezes, se mil vezes me tentarem fugir. Tento obrigá-las a esconderem-se dos outros também. Insistem em desabar quando mais tento engoli-las. Gosto de pensar que é porque sou forte, porque não quero mostrar sofrimento a quem tanto anseia por ele, porque não posso levá-lo a quem nem deveria saber o seu significado.


Digo o quero, o que me sai sem querer. Digo a sorrir, ou ignoro. Mas insisto. Faço o que não me achavam capaz. Caminho a passo lento num beco, onde nem a lua se atreve a entrar, se for preciso. Gosto de pensar que é porque sou forte, porque atravesso obstáculos, combato os meus medos. Sozinha. Gosto de pensar que consigo.


Dizem que é orgulho. Eu gosto de pensar que é força. Gosto de pensar que sou eu que sou forte!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

(In)satisfação

Quando, pequeninos, entramos na escola só ansiamos chegar rápido a ser os mais crescidos. Brincamos de adultos, pais e mães, de príncipes e princesas apaixonadas. Na faculdade, não nos chega ser os inocentes, lutamos com garra de leão e aos poucos conseguimos que a nossa alma de passarinho transponha aquela barreira. Do outro lado, caminhamos no escuro e a luz da lua não é suficiente, queremos o sol.
Ansiamos a satisfação profissional, alcançamo-la e queremos um grande amor. Encontramo-lo, mas apesar de nos amar incondicionalmente e de ser cegamente correspondido vai sempre faltar um qualquer condimento mágico. Pimenta, doçura ou um simples gesto de carinho pela manhã, esquecido no meio da correria do dia-a-dia. E, se nada nos faltar, damos voltas à cabeça e iremos encontrar alguma coisa. Uma casa nova. Um emprego, porque o nosso já não nos satisfaz. Uma vida inteira talvez, já vivemos com a nossa há demasiado tempo e queremos outra. Adrenalina, sangue quente a correr-nos nas veias, um friozinho na barriga. A insatisfação está-nos nas entranhas e é inerente à nossa existência. Queremos tudo a que temos direito e acabamos por não aproveitar direito tudo o que temos.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

FIM

Desconhecido e irregular, o caminho. Sinto-me como se caminhasse de olhos fechados no escuro, dando passos lentos, trabalhando cada pedacinho de chão com cuidado, uma e outra e outra vez antes de avançar. Descuido-me, deixo-me ir e não consigo controlar. Caio num abismo, desamparada. Tento com todas as forças segurar-me ao enorme muro em que, eu própria, me encerrei. É muito tarde, agora. Os meus dedos escorregam e o muro já não existe. Deixo-me cair. Gosto da sensação não posso negar, e no entanto, é tão dificil admitir. Gosto do arrepio que me provoca, o vento. Gosto do calor com que me aconchega, o sol. E deixo-me cair. Sei que vou acabar por tocar, secamente, o chão. Mas depois, quando aos poucos sentir a dormencia e os sentidos desaparecerem, quando libertar finalmente a minha alma vou olhar para baixo e ter certeza do que me aconteceu. Vida.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Delícia

Dizem que amor de primos é para sempre. Eu acredito. Não esse amor carnal, mas este. Terno, sossegado, puro, delicioso. Eu acredito.
E pensar que agora sou eu a mais pequenina.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

"Tenho fome, posso ir buscar bolachas?", perguntou-me e eu respondi afirmativamente. Trouxe uma caixinha com algumas. Tinham recheio de geleia de framboesa. Pousou-as na mesa e ia dando uma ou outra dentada entre as diversas pinceladas no desenho.
Tirei uma balacha. Abri-a, comi toda a parte onde não havia geleia e deixei o resto num canto.
"Não se faz isso", disse-me com um olhar reprovador. "Mas eu não gosto", argumentei rapidamente. Sem dizer mais nada agarrou no pedacinho que eu tinha deixado e comeu. Ainda repeti o gesto umas quantas vezes. Ele comia sempre o meu pedacinho.
De repente, largou tudo o que estava a fazer e levantou-se. Quando voltou, pôs-me na mão um pacote de bolachas de água e sal. "Come estas", disse ele "assim já não estragas mais nenhuma".

E por breves momentos, naquela sala, era eu quem parecia ter cinco anos.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Mundo Nosso

Eu, pequenina, irrequieta e traquina acreditava em tudo o que me dizias. Seguia-te de olhos fechados para um abismo, se me pedisses. Dava-te os meus rabiscos. Rabiscos, que na minha cabeça, eram o melhor dos presentes. Escrevia-te cartas quando, com dificuldade, ia aprendendo as primeiras letras. Tu, cuidavas de mim. Passavas tardes inteiras comigo, sem te queixares. Defendias-me do animal feroz que tanto temia. Inventavas mil e uma histórias que me divertiam. Viamos o Natal dos hospitais sentadas na sala. Eu, encolhida no chão olhava para ti enquanto tu, divertida, olhavas os cantores na televisão. Ouviamos as músicas que eu gostava, as que passei a gostar só porque eram as tuas favoritas. Brincavamos com as barbies, iamos para uma ponta do teu jardim fazer porcaria enquanto as nossas mães se mantinham ocupadas na outra ponta. Também tu me davas bolachas, só tinha que ir ao frasquinho do costume, e lá estavam elas. Queria ser como tu, em tudo, menos no cabelo. Gostava do meu. Hoje, eu crescida, sossegada e brincalhona, sorrio quando me lembro de cada momento. Já não vivo aí, já não partilhamos tardes inteiras. Mas acho que consegui ser um bocadinho do que tu és. Do que me ensinaste a ser, do que me fizeste querer ser. E sabes, ainda hoje te seguia de olhos fechados se me pedisses, ainda hoje tens um brilho tão especial que só consigo ver em ti*

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

"Tudo na vida tem o seu tempo, e o seu caminho, e o meu agora é outro: é novo, é desconhecido, é estranho. Mas é o meu, o que eu quero e o que tenho que viver."

Margarida Rebelo Pinto


E quando não consigo encontrar palavras, há sempre quem as encontre por mim.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

"E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas ilusões de que tudo podia ser meu pra sempre"

Miguel Sousa Tavares

domingo, 3 de janeiro de 2010

(Re)soluções

Nunca fui muito de resoluções de ano novo. De desejos. De pedidos. Nunca senti necessidade. Acho que foi porque sempre estive segura dos meus dias. De onde os ia passar. Com quem os ia dividir. Este ano é diferente. Foi diferente. Para ser sincera, eu sou diferente e não sei o que me reserva. Uma amiga falou-me numa forma de começar o ano em grande. Pensei nos 12 desejos. Demasiados, confesso. Ao fim do terceiro já não sabia mais o que desejar. Acho que é porque tenho tudo. Bem, talvez TUDO seja, também, demasiado. Mas tenho quase tudo o que preciso para me fazer feliz. Ainda assim, resolvi pedi-los, escreve-los no papel e esconde-los bem no fundinho do bolso. Quero mesmo que seja um ano em grande. Que me sinta realizada, amada, plena, inteiramente feliz. Quero mesmo que seja um início, um novo início. Empurrei tudo para trás das costas e agora sinto-me leve. Agora, o meu único desejo é que os meus desejos deste ano se realizem. Mesmo que daqui a 365 dias já nem me lembre que, um dia, os desejei.