sábado, 23 de julho de 2011

Inês

Tinha Inês escrito no crachá, religiosamente colocado no lado esquerdo do peito. Inês, escrito a tinta azul, clara, a desaparecer. Guardava uma chave pequenina junto ao crachá, tão pequenina que só era perceptível através dos movimentos que ia fazendo enquanto limpava a prateleira.
- É a chave do seu coração, Inês?
Devolveu-lhe um sorriso.
- Não, essa não sei onde anda. Atirei-a ao mar para que ninguém a encontre.
O homem, de cabelo grisalho e rugas a desenharem-lhe o contorno dos olhos, aproximou-se.
-Sabe Inês, o mar devolve tudo o que não lhe pertence.
- Eu não a quero de volta.
- Não se preocupe, Inês. Não é a si que o mar vai entregar a chave. Não é a si.