domingo, 28 de outubro de 2012

Quero ir embora!

Tenho pensado muito nisso, cada vez mais. Gostava de viver num lugar onde se falasse inglês, gostava de sair daqui. Bem sei que o dia em que me for embora vai ser o dia em que me despeço do sonho de ser jornalista. Sei disso tudo mas se parte de mim se lamenta, a outra já não se importa porque tenho a certeza que, mesmo aqui, o sonho vai ser difícil de realizar. Quero ir embora deste país que já não me dá nada, que não tem nada para me oferecer. Quero ir embora. Quero ir para um sitio onde comece do zero. Posso bem limpar casas, trabalhar em cafés, posso limitar a minha escrita a este blogue que parte de mim já não se importa. Eu já não quero saber, só quero ir embora. Se ao menos tivesse escolhido ser enfermeira, médica, engenheira podia estar a trabalhar em Londres, em Paris como tantos outros. Podia ir para lá, arriscar, mas arriscar no meu sonho. Agora assim. Eu não tenho nenhuma especificidade, só sei escrever. E por mais que ache isso a melhor coisa do mundo, o resto do mundo não pensa da mesma maneira. Quero ir embora, para longe. Quero ter saudades. Preciso, urgentemente, de sentir saudades das coisas boas deste país. Preciso de me lembrar que há coisas boas. Tenho de chorar nos aeroportos enquanto me despeço das pessoas mais importantes, tenho que respirar o ar de outras cidades, tenho que conhecer novas pessoas, integrar-me em novas culturas, tenho que conseguir depender de mim. Portugal não me deixa depender de mim, nem sei se um dia vai deixar e eu estou cansada. 
Hoje, não se respira neste país, não se sonha e a imagem do que a minha vida possa ser daqui a 30 anos não me deixa feliz. Eu preciso ir embora daqui, quero ir embora deste país e viver num sitio onde não me digam que vivo acima das minhas possibilidades mas onde me dêem possibilidades de viver.

domingo, 21 de outubro de 2012

Já ninguém se importa. Esta semana, sempre que abri um jornal, liguei a televisão, sintonizei uma rádio enterrei-me num Portugal em queda livre que, aos poucos, arrasta a comunicação social para um buraco tão fundo que será difícil sair. Abri a minha página de facebook vezes sem conta. Partilhavam fotos de uma redacção da agência Lusa vazia. Partilhavam noticias sobre um Público mais pobre, falavam de uma possível venda da Controlinveste (JN, DN, TSF, O JOGO) aos angolanos,tentavam, a todo o custo, lutar contra uma maré que, de tão forte, já arrastou quase tudo. Antes, já tinham anunciado encerramentos de revistas, já tinham acabado com a (minha) Jornalismo Porto Rádio. Esta semana, a minha página do facebook mostrava-me um mundo negro que eu parecia não encontrar na vida de mais ninguém que não pertencesse à área. Já ninguém se importa. Ninguém quer saber. Quem não pertence ao meio não quer saber. Quem não pertence ao meio diverte-se a contar piadas, partilha imagens parvas, com frases que têm tanto de sentimentalismo da treta como de vazias. Nas edições online dos jornais leio comentários que me dão náuseas e me fazem querer abrir cabeças ocas e colocar alguma coisa lá dentro. Anonimamente (não é sempre assim?) perguntam "para que serve uma agência", dizem concordar com despedimentos, "é bem feito". Questionam a credibilidade de um jornalismo que já deveria ter dado provas mais do que suficientes. Já ninguém se importa. "Os despreparados, incompetentes estão condenados ao fracasso", leio noutro comentário. Já ninguém se importa. Custa-me que ninguém se importe!
"O meu trabalho é com palavras... Tive essa sorte"
Manuel António Pina