quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Não me admira que as histórias contadas em livro sejam melhores do que as contadas em filme. Uma imagem até pode valer mil palavras, mas as palavras valem mais de mil imagens na minha cabeça. Não me admira que haja quem se recuse a ler determinados textos. Ler materializa sentimentos, leva-nos para longe, dá-nos um mundo nosso. Hoje, custa-me ler desabafos dos dias mais felizes da minha vida, que guardo num lugar onde só nós temos acesso. E, mesmo assim, leio. De tempos em tempos engulo em seco, respiro fundo e leio. Não são precisas mais do que três linhas para me sentir lá outra vez, para conseguir ver as mesmas pessoas, para quase sentir o perfume e identificar os cortes de cabelo. Não preciso de muito para me ver como num filme que eu própria escrevi e protagonizei. Para me ver a correr, a sorrir. E quase sinto aquela felicidade outra vez, quase acredito que nada mudou, que ainda me pertence. Depois fica a saudade só, o pensamento de que não devia ter lido. Fica uma angústia que quase dói no peito e pesa nos olhos. E li tudo, tudo, tudo. E não me admira que haja quem se recuse a ler determinados textos. Ler é uma droga que dá um prazer sem limites e acaba por nos deixar loucos. E também não me admira que as histórias contadas em livro sejam melhores do que as contadas em filme, são mais nossas.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Ai o amor e o dia dos namorados

A verdade é que sou um fruto seco. Desengane-se quem pensa que o que lê aqui é o reflexo de alguém irremediavelmente romântico. Não é. Na verdade, o que eu sou e o que escrevo parecem ser duas coisas completamente distintas que, nem por sombras, poderiam co-habitar no mesmo ser. Não acredito no amor, pelo menos não da forma que a maioria das pessoas o vê.  Chamem-me anormal, inconsciente, o que quiserem, mas eu nunca sonhei casar e o romantismo faz-me aflição. Acho o casamento desnecessário e, escandalizem-se, acho, sinceramente, que se pode ser feliz sem ter um cadeado de metal agarrado ao dedo.  As demonstrações de amor fazem-me levantar o sobrolho e querer sair a correr. Se forem em público parecem-me sempre pouco genuínas e deixam-me a pensar que quem as faz, fá-lo não pela pessoa que diz amar, mas para esfregar a felicidade na cara dos outros. 
Não sou um cubo de gelo, mas as pieguices (agora está na moda dizer isto) sufocam-me. Faço tudo pela minha família e sou capaz ser a pessoa mais doce com os amigos, é só que esta forma de amor faz-me espécie. Mas vamos lá imaginar que até nem leram nada desta minha alergia ao amor, e vamos ser sinceros: as mulheres escolhem sempre os comprometidos ou aqueles que têm escrito na testa "vou magoar-te até liquidificares as entranhas". É certo como a água do rio aqui perto de casa estar poluída. E, portanto, isso do amor, do conto de fadas e do belo príncipe no cavalo branco acaba em pudim.
Não quero com isto dizer que o que escrevo é vazio porque não é. Ponho sempre algo de mim no que escrevo, e tudo tem um sentido. É só que hoje não estou virada para as frases bonitas nem consigo pensar em nenhuma história incrível. Hoje é isto, não gosto do dia dos namorados, não acho piada ao amor e a verdade é que sou um fruto seco!


P.S- Note-se que escrevi isto ao som do "My heart will go on" da Celine Dion, com muitas falas do TITANIC pelo meio, para ver se me amolecia o coração, coisa que não se veio a verificar. 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

De olhos claros e Cabelo muito preto, a Helena acordava cedo, todos os dias. Escovava o cabelo demoradamente, escolhia a saia mais brilhante, o top mais exuberante. Passava lápis nos olhos, batom nos lábios e espalhava perfume no pescoço. Depois corria a tomar o pequeno-almoço, agarrava nos livros e o pai deixava-a na escola. Naquele dia chegou atrasada e na correria nem percebeu quando esbarrou nela. De cabelo desarrumado e cara de sono, a Joana levantou-se do chão sem ajuda. Voltou a casa a correr para trocar a roupa, agora suja. Escolheu as calças de ganga do costume, que ainda estavam penduradas no arame, puxou a camisola de manga comprida, atirou água para a cara e voltou a sair. Chegou tarde às aulas, ainda com o cabelo despenteado, e ouviu a gargalhada de fundo. Não ligou, estava demasiado habituada aos risos, às piadas, aos cochichos quando passava no corredor.

O pai da Helena chegou ao fim da tarde, esperou o toque do fim das aulas e alguns minutos depois lá vinha a Helena, rodeada de amigos. Despediu-se e entrou no carro. Arrancaram e pararam na passadeira em frente à escola. A Joana atravessou a rua, sozinha no meio de todos os amigos da Helena, e caminhou até casa. Nessa noite a Helena adormeceu tarde. Deitou-se a olhar para o tecto e a desejar com muita força ser diferente de todas as meninas. Ser a melhor, a mais bonita, diferente. A Joana não conseguiu dormir. Enterrou a cara na almofada, fechou os olhos com força e desejou ser normal, passar despercebida e ser completamente igual às outras.