quinta-feira, 19 de abril de 2012

Vivemos inundados em promessas que nunca iremos cumprir. Sabemos que não, e prometemos sem remorso, sem dor de cabeça, sem peso na consciência. Prometemos visitar a escola antiga quando mudamos para uma nova, prometemos voltar a casa daquele amigo depois de lá termos estado uma vez, aproveitar as férias para ir passar uns dias com o conhecido que vive em outro país, voltar ao antigo local de trabalho para dizer olá. Somos peritos em promessas de circunstância, em convites politicamente correctos, em compromissos para "um dia". Depois dizemos a nós mesmos que os horários na escola nova não nos deixam visitar a antiga, convencemos o nosso amigo de que andamos cheios de coisas para fazer e que não é a melhor altura para ir lá jantar, explicamos ao nosso conhecido que as viagens para fora do país estão muito caras e as finanças não andam boas, contamos aos nossos ex-colegas de trabalho  como precisamos dar o máximo neste novo início profissional e que o melhor é adiar a visita. E adiamos. Adiamos para um dia. Um dia. Um dia, quando percebermos que vivemos inundados em desculpas vamos explicar aos outros que só há duas razões para não cumprirmos promessas. Algumas delas não nos dizem nada e, à última hora, acabamos por desistir. Outras dizem demasiado e, à última hora, perdemos a coragem.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Há qualquer coisa que não sei caracterizar nestes dias onde não há sol e não chove, onde ainda não é maio e março já acabou. É, provavelmente, a indecisão do tempo que já não se adequa, a incerteza de estações que já não existem, a inércia de não chegar a lado nenhum. Há qualquer coisa que não sei caracterizar e que, ao mesmo tempo, me descaracteriza e me despe da pouca luz que ainda tenho. Não é só o tempo, não são só os dias. São as coisas que já não têm lugar,  os momentos que não deixam detalhes. Não há nada nestes dias e do nada não ficam memórias, não há lugar a inspiração, não sobra espaço para o equilíbrio, não há forma de caracterização. Não há nada que eu saiba caracterizar e, nestes dias, até o 'nada' o vento levou.