quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O mundo devia ser sempre assim: uma timeline a meio gás que nos dá os momentos que já não tínhamos, o tempo que deixamos de reconhecer e nos devolve aos que, sendo nossos, nos vão perdendo no meio da correria dos dias comuns.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

limbo

Andei tempo de mais a deambular pelo Limbo, a tentar equilibrar-me numa corda desastradamente bamba sobre o mais profundo dos precipícios enquanto tentava decidir se o meu passo seguinte seria para a frente ou para trás.

A complexidade das pessoas deixa-me perdida, às vezes. E por pessoas quero dizer eu, também. Não entendo o que nos muda os olhos, o que nos muda os sonhos, o que nos faz perde-los. Não entendo como podemos passar parte da vida agarrados ao que supostamente sempre quisemos e, num piscar de olhos, perceber que não queremos mais. Sou eu que me perco, na realidade. Não são as pessoas, não é a sua complexidade, sou eu. Sou eu e o meu espírito disperso que nunca sabe muito bem para onde se voltar. Sou eu. Que ando em círculos quando a ideia de um caminho em linha reta me assusta, que me fecho a sete chaves sem perceber que estou a fechar o pior comigo. O pior de mim sou eu. Que assim que realizei os sonhos que construí toda a vida me senti mais perdida que feliz. Sou eu. Que tento insistentemente tirar o barco a remos do lugar e não o vejo mover-se. Sou eu. Que procuro objetivos nos lugares errados e que, por não os encontrar, deambulo num limbo que toma conta de mim, me muda e faz o pior de mim ser tudo o que eu sou.

Já não sou. Vejo uma uma corda menos bamba, agora, uma distância menos longa, um precipício menos assustador. E, na realidade, tudo o que consegui foi recuperar o equilíbrio. O resto começa agora.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Negar

De todas as coisas que devíamos saber de nós, há umas quantas que teimamos ignorar mesmo quando tudo nos envia para outra direção. Negar o que, à partida, desconhecemos é uma dessas coisas. Podemos, do mais alto da nossa teimosia, cara amarrada e sobrolho franzido fazer o que dizemos não gostar  sem conhecer em nome de um orgulho que achamos ferido. A vida trata de nos fazer tropeçar e o tempo que leva a pôr-nos no lugar parece uma ligeira fracção de segundos pensada para nós mesmo antes de sermos nós. No pequeno instante em que sentimos os pulmões recuperarem de uma inspiração profunda e se prepararem para jorrar o excesso de ar que temos no peito percebemos que não foi só ar que inalamos. Foi o orgulho estúpido também, a negação. E expelimo-lo de nós como se de mais uma partícula de dióxido de carbono se tratasse. Se há algo que a vida nos faz sempre que teimamos ignorar o que já devíamos saber de nós é trazer-nos de volta, mostrar-nos um caminho que já devíamos saber de cor mas que teimamos em não escolher, dizer-nos que, às vezes, o que de melhor nos acontece está no que insistimos negar.
Às vezes, o melhor é deixarmo-nos ir, o mais fácil é acreditar naquilo que ouvimos, no que lemos ou no que a imaginação nos disse vezes sem conta. Que há momentos em que, sem darmos conta, o melhor de nós se cruza com o de alguém e nos prende como se de uma linha invisível se tratasse. Como se um pedacinho de algodão deixasse as nuvens para nos manter juntos, nos fazer uns dos outros e nos enlaçar com sentimentos de familiaridade que nem conseguimos entender. Às vezes, o melhor é deixarmo-nos ir, o mais fácil é acreditar que o universo nos empurra para determinadas pessoas quando os nossos caminhos ainda não conheceram a mesma rua. E no final, negar não muda nada, não adianta nada. Ou muda. Adia o que nos faz bem, arrasta-nos pelo engano e de todas as coisas que devíamos saber de nós, aquilo que nos faz feliz é a que devíamos conhecer melhor.