sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Saímos de casa depois das dez. De cor de rosa, as duas, o meu mais escuro que o teu. Enchemos o carro de vozes estridentes, de cantorias contagiantes. O Pai queixava-se da música, diminuía o volume e ria-se. A mãe olhava para trás, trauteava e batia com a mão na janela, levemente, ao ritmo da música. Estacionamos não muito longe da praia, andamos a pé à beira mar. Eu, de cor de rosa forte, sem casaco, agarrada ao braço do pai vestia o ar mais convincente do mundo e afirmava não ter frio mesmo quando a minha pele se arrepiava. Tu, de cor de rosa claro, agarrada ao braço da mãe, levavas casaco e gozavas com as minhas sandálias. As sandálias que não usas porque achas feias. 
Andamos mais e mais e mais. Deram-me um balão verde, tiveste um também e continuamos a andar. Eu já não sentia frio, tu já não troçavas das minhas sandálias e íamos os quatro. Eu atropelava palavras enquanto contava o meu dia, tu contavas o teu, o pai falava da camisola nova que lhe ficava mesmo, mesmo bem e a mãe largava fortes gargalhadas e dizia o quanto gostava destes passeios.
Fiz birra, disse que me doíam os pés, que queria ir embora. Tu insistias que tinhas fome. A mãe não queria ir para casa. O pai oferecia-se para ir buscar o carro. Parámos num café, compramos uma coisita para comer e continuamos a andar. Devagarinho, porque me doíam os pés, mas continuamos, a comer, a rir, a andar.
Adormeci no carro sem largar o balão verde e quando chegamos riste-te para mim e apontaste para o balão. O meu tinha murchado, o teu continuava maravilhoso. Eu tinha 23, tu estavas quase a fazer 18.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Não resisto,

é que andam à minha procura no google escrevendo "coisasdaelsa.blogspot.com"Pois, realmente, as coisitas são minhas mas o endereço é o meu nome. É simples, não compliquem ;)

Excelentissimo leitor que me pesquisou desta maneira, fico muito contente que cá tenha chegado e faço votos de que volte mais vezes.

Atenciosamente,
Elsa*

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

04 de Agosto de 2011

Muitos autocarros passaram por mim. Atrasados, apressados, apinhados. Sentei-me em muitas paragens, também. Muitas, inúmeras, demasiadas.  E naquela nunca mais. E nunca mais esqueci. Vi dias nascerem vazios, vi noites chegarem tristes. Vi-me cinzenta, cor de rosa. Vi-te pálida, brilhante. Lembrei-me  muitas vezes de nós, sentadas naquela paragem, à espera, estáticas, imóveis. À espera do autocarro que teimava em se atrasar. E os dias voltavam chuvosos e as noites brotavam frias. Já quase esquecia o sabor doce da lima, já quase ignoravas o calor sufocante do sol. Já não havia ninguém a confirmar a hora do autocarro, já todos tinham encontrado o seu. E, ali, éramos só eu, tu e a esperança de que o nosso chegasse, que nos levasse dali, para bem longe. Já tínhamos voltado as costas à paragem, ao horário, ao autocarro quando o teu chegou. Entraste, subiste dois degraus e eu disse que te adorava. Não respondeste, a porta fechou-se e o autocarro arrancou. Eu fiquei ali, estática, sem conseguir mover-me, a ver-te partir. O autocarro parou mais à frente. Tu saíste, correste para mim, agarraste a minha mão e levaste-me na viagem contigo. Não andamos muito, não fomos muito longe mas saímos dali. E, se calhar, o mais importante não são os quilómetros que percorremos, se calhar o mais reconfortante é conseguirmos sair do lugar.
"A quem me agarra sempre"