sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Saímos de casa depois das dez. De cor de rosa, as duas, o meu mais escuro que o teu. Enchemos o carro de vozes estridentes, de cantorias contagiantes. O Pai queixava-se da música, diminuía o volume e ria-se. A mãe olhava para trás, trauteava e batia com a mão na janela, levemente, ao ritmo da música. Estacionamos não muito longe da praia, andamos a pé à beira mar. Eu, de cor de rosa forte, sem casaco, agarrada ao braço do pai vestia o ar mais convincente do mundo e afirmava não ter frio mesmo quando a minha pele se arrepiava. Tu, de cor de rosa claro, agarrada ao braço da mãe, levavas casaco e gozavas com as minhas sandálias. As sandálias que não usas porque achas feias. 
Andamos mais e mais e mais. Deram-me um balão verde, tiveste um também e continuamos a andar. Eu já não sentia frio, tu já não troçavas das minhas sandálias e íamos os quatro. Eu atropelava palavras enquanto contava o meu dia, tu contavas o teu, o pai falava da camisola nova que lhe ficava mesmo, mesmo bem e a mãe largava fortes gargalhadas e dizia o quanto gostava destes passeios.
Fiz birra, disse que me doíam os pés, que queria ir embora. Tu insistias que tinhas fome. A mãe não queria ir para casa. O pai oferecia-se para ir buscar o carro. Parámos num café, compramos uma coisita para comer e continuamos a andar. Devagarinho, porque me doíam os pés, mas continuamos, a comer, a rir, a andar.
Adormeci no carro sem largar o balão verde e quando chegamos riste-te para mim e apontaste para o balão. O meu tinha murchado, o teu continuava maravilhoso. Eu tinha 23, tu estavas quase a fazer 18.

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