quinta-feira, 4 de agosto de 2011

04 de Agosto de 2011

Muitos autocarros passaram por mim. Atrasados, apressados, apinhados. Sentei-me em muitas paragens, também. Muitas, inúmeras, demasiadas.  E naquela nunca mais. E nunca mais esqueci. Vi dias nascerem vazios, vi noites chegarem tristes. Vi-me cinzenta, cor de rosa. Vi-te pálida, brilhante. Lembrei-me  muitas vezes de nós, sentadas naquela paragem, à espera, estáticas, imóveis. À espera do autocarro que teimava em se atrasar. E os dias voltavam chuvosos e as noites brotavam frias. Já quase esquecia o sabor doce da lima, já quase ignoravas o calor sufocante do sol. Já não havia ninguém a confirmar a hora do autocarro, já todos tinham encontrado o seu. E, ali, éramos só eu, tu e a esperança de que o nosso chegasse, que nos levasse dali, para bem longe. Já tínhamos voltado as costas à paragem, ao horário, ao autocarro quando o teu chegou. Entraste, subiste dois degraus e eu disse que te adorava. Não respondeste, a porta fechou-se e o autocarro arrancou. Eu fiquei ali, estática, sem conseguir mover-me, a ver-te partir. O autocarro parou mais à frente. Tu saíste, correste para mim, agarraste a minha mão e levaste-me na viagem contigo. Não andamos muito, não fomos muito longe mas saímos dali. E, se calhar, o mais importante não são os quilómetros que percorremos, se calhar o mais reconfortante é conseguirmos sair do lugar.
"A quem me agarra sempre"


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