De todas as coisas que devíamos saber de nós, há umas quantas que teimamos ignorar mesmo quando tudo nos envia para outra direção. Negar o que, à partida, desconhecemos é uma dessas coisas. Podemos, do mais alto da nossa teimosia, cara amarrada e sobrolho franzido fazer o que dizemos não gostar sem conhecer em nome de um orgulho que achamos ferido. A vida trata de nos fazer tropeçar e o tempo que leva a pôr-nos no lugar parece uma ligeira fracção de segundos pensada para nós mesmo antes de sermos nós. No pequeno instante em que sentimos os pulmões recuperarem de uma inspiração profunda e se prepararem para jorrar o excesso de ar que temos no peito percebemos que não foi só ar que inalamos. Foi o orgulho estúpido também, a negação. E expelimo-lo de nós como se de mais uma partícula de dióxido de carbono se tratasse. Se há algo que a vida nos faz sempre que teimamos ignorar o que já devíamos saber de nós é trazer-nos de volta, mostrar-nos um caminho que já devíamos saber de cor mas que teimamos em não escolher, dizer-nos que, às vezes, o que de melhor nos acontece está no que insistimos negar.
Às vezes, o melhor é deixarmo-nos ir, o mais fácil é acreditar naquilo que ouvimos, no que lemos ou no que a imaginação nos disse vezes sem conta. Que há momentos em que, sem darmos conta, o melhor de nós se cruza com o de alguém e nos prende como se de uma linha invisível se tratasse. Como se um pedacinho de algodão deixasse as nuvens para nos manter juntos, nos fazer uns dos outros e nos enlaçar com sentimentos de familiaridade que nem conseguimos entender. Às vezes, o melhor é deixarmo-nos ir, o mais fácil é acreditar que o universo nos empurra para determinadas pessoas quando os nossos caminhos ainda não conheceram a mesma rua. E no final, negar não muda nada, não adianta nada. Ou muda. Adia o que nos faz bem, arrasta-nos pelo engano e de todas as coisas que devíamos saber de nós, aquilo que nos faz feliz é a que devíamos conhecer melhor.
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