quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

De olhos claros e Cabelo muito preto, a Helena acordava cedo, todos os dias. Escovava o cabelo demoradamente, escolhia a saia mais brilhante, o top mais exuberante. Passava lápis nos olhos, batom nos lábios e espalhava perfume no pescoço. Depois corria a tomar o pequeno-almoço, agarrava nos livros e o pai deixava-a na escola. Naquele dia chegou atrasada e na correria nem percebeu quando esbarrou nela. De cabelo desarrumado e cara de sono, a Joana levantou-se do chão sem ajuda. Voltou a casa a correr para trocar a roupa, agora suja. Escolheu as calças de ganga do costume, que ainda estavam penduradas no arame, puxou a camisola de manga comprida, atirou água para a cara e voltou a sair. Chegou tarde às aulas, ainda com o cabelo despenteado, e ouviu a gargalhada de fundo. Não ligou, estava demasiado habituada aos risos, às piadas, aos cochichos quando passava no corredor.

O pai da Helena chegou ao fim da tarde, esperou o toque do fim das aulas e alguns minutos depois lá vinha a Helena, rodeada de amigos. Despediu-se e entrou no carro. Arrancaram e pararam na passadeira em frente à escola. A Joana atravessou a rua, sozinha no meio de todos os amigos da Helena, e caminhou até casa. Nessa noite a Helena adormeceu tarde. Deitou-se a olhar para o tecto e a desejar com muita força ser diferente de todas as meninas. Ser a melhor, a mais bonita, diferente. A Joana não conseguiu dormir. Enterrou a cara na almofada, fechou os olhos com força e desejou ser normal, passar despercebida e ser completamente igual às outras.

1 comentário:

Adriana disse...

ainda nao tinha lido este!

Admiravel :)

(nao me censures por dizer a verdade)