Percorro a estrada estreita, devagar. O cheiro a terra queimada encontra o meu nariz e aconchega os meus pulmões tão intensamente que me sinto sufocar. As pedras enormes e majestosas estão cobertas por uma camada negra, fina. Tão fina que iria desaparecer, tal qual um grão de areia que, em vão tenta permanecer no chão num dia ventoso. As árvores despidas e frágeis são agora carvão e no lugar das plantas estendem-se restos de vida no chão.
Ao chegar lá tudo é supreendentemente diferente. Tudo parece intacto, perfeitamente coordenado. Nas estreitas ruelas de paralelo não passa mais do que um carro. Todas elas são iguais e delicadamente diferentes. A vizinha do primeiro andar comenta com a da frente a novela do dia anterior enquanto estende a roupa. Assim, na varanda, como se nada mais importasse naquele momento. Como se tudo fosse simples e a felicidade dependesse daquela roupa, daquela conversa trivial. A Maria passa a correr no meio das casitas de pedra. "Não há muitos carros não é Maria? podes estar à vontade", diz-lhe a primeira senhora enquanto continua a estender a roupa. A Maria sorri, sacode os cachinhos loiros e desata a correr novamente.
Sentadas nas escadas do Pelourinho, mais quatro vizinhas discutem animadamente um qualquer assunto que não fui capaz de entender. E eu passo, olho e delicio-me com a vista de tirar o fôlego, com os poemas espalhados pelas ruelas, com a beleza e a simplicidade de quem não precisa de mais nada para ser feliz.
1 comentário:
"com os poemas espalhados pelas ruelas"...
Perante tais "ruelas", achas mesmo que *eu* consigo comentar alguma coisa? :D
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