Há coisas sobre as quais não conseguimos escrever. Umas porque não as queremos partilhar, porque o medo de que as roubem de nós é tanto que se torna impossível dar-lhes forma. Na maior parte das vezes não sabemos como as colocar em palavras. Eu não sei como descrever o que um lugar me faz sentir. Eu não sei explicar a forma como aquele cheiro a mar me entra pelas narinas e me faz sentir que vivi sempre ali. Como é que se explica que as ondas que nos batem na pele não são só ondas? Como é que se explica que nos lavam a alma e que, a cada batida que nos arranca os pés da areia, levam um pouco de nós. Como é que se faz alguém compreender que, naquele momento, nós somos um bocadinho de mar, um pouco de sol. Como? Eu não sei escrever sobre como o sol se põe no mar e de como o meu coração se arrepia sentado nas passagens de madeira. Eu não sei. Não sei pôr o Paraíso em palavras. Sei que tem cheiro de mar, casas pequeninas e noites quentes. Sei que tem ruas estreitas, pessoas inigualáveis e uma magia que me faz sentir bem, plenamente feliz, leve e com vontade de lá ficar para sempre, mas não sei escrever sobre o Paraíso. Sei que lá estive, que é sitio mais bonito do mundo. Conheço esse paraíso onde todos desejamos chegar um dia, quando morrermos, mas que está bem aqui, na terra. Vivi-o e não sei escrever sobre ele. E, de todas as vezes que perguntam sobre os meus dias, acontece o mesmo. Sinto os olhos brilhar, o coração bater mais depressa e da minha boca não sai senão o vazio cheio de coisas que não sabemos como colocar em palavras.
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