Apetece-me ser bruta e usar
palavras rudes. Palavrões, se lhes quiserem chamar. Quero ser politicamente
incorrecta, também. Esbarrar a falsidade das pessoas na cara delas. Apontar a
futilidade de certas amizades com todos os dedos. Apontar é feio, bem sei. Mas
quem se importa se apontar é feio quando todos atiramos pedras ao vizinho.
Apetece-me bufar na cara de muitos que não os suporto, que estou farta que me
persigam, que não aguento a forma enjoada como falam. Apetece-me ser muito
bruta. Agarrar em corpos de porcelana, abaná-los e procurar a alma escondida no meio de tanto
cristal. A falta de genuinidade acaba comigo. Não suporto gente que não solta
gargalhadas só porque é um escândalo. Não aguento pessoas que não levantam a
voz porque não é educado mas que espetam facas nas costas porque, por detrás,
ninguém vê. Apetece-me gritar-lhes aos
ouvidos até não aguentarem a minha falta de chá e depois ignora-los. E no fim,
quando deixarem cair a mascara delicada e caírem do patamar de superioridade,
quero olhá-los nos olhos e sorrir. Quero dizer-lhes baixinho que a educação não
pertence só a quem mantém o tom de voz baixo, a quem sabe falar correctamente,
a quem ri timidamente, a quem está num patamar superior. Quero dizer-lhes que
podem, sim, estar no patamar mais alto da pirâmide, mas quem vive na base tem a
única coisa que eles nunca terão: personalidade.
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