terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Alice

Tinha passado muito tempo desde que a Alice tinha pisado, pela ultima vez, aquele chão. Estava mais cheio, tinha mais nomes cravados em pedras de granito, mais flores a resistir ao vento. Tudo o resto era igual: o frio, os caminhos estreitos por entre os nomes cravados nas pedras de granito, as velas acesas quase sem cera. Foi, de braço dado com a mãe, atrás daquela multidão vestida de escuro que abafava pequenos soluços no cachecol. Não conhecia a pessoa que seguia na frente da multidão, nunca a tinha visto, nunca lhe tinha falado e agora sentia um estranho peso dentro do peito. Ninguém chorava compulsivamente, ninguém parecia perder o controlo e tudo o que era capaz pensar era em como nunca conseguiria manter aquela serenidade. Agarrou o braço da mãe com mais força  e quis sair dali. 

Enquanto voltava parou em frente a mais uma pedra de granito. Não havia fotografia, não havia velas e só algumas flores permaneciam ainda intactas. A placa de granito segurava um pequeno papel molhado, desbotado pela chuva. Tinha um desenho quase imperceptível e, em baixo, escrito com letra de criança permanecia intocável um "amo-te avô". 

Tinha passado muito tempo desde que a Alice tinha pisado, pela ultima vez, aquele chão e naquele momento teve a certeza que era melhor que continuasse assim.

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