Pergunto-me, às vezes, se algum dia serei plenamente normal, comum. O normal culto, serio, interessante, cativante. Pergunto-me, outras tantas, se esta loucura que trago algum dia vai sumir, desaparecer, dar lugar a um eu de olhar carrancudo, voz de respeito, de postura muito direita e lábios selados. Nem sempre me acho boa pessoa. Nem sempre me sinto melhor. Às vezes, confesso, penso como seria se fosse mais como a Ana, como a Teresa, como a Maria, como elas. Calada, parada, focada. Pergunto-me, não poucas vezes, se será normal esta loucura, se será normal ter consciência dela e deixa-la existir. Se não risse demasiado, se não brincasse demasiado, se não exteriorizasse demasiado, se não falasse demasiado. Devia mudar a maneira de pensar, também. Ser mais como a Ana, a Teresa, a Maria. Deixar o que gosto de lado. O que importa, afinal, o que gosto quando posso ter o que quero. Ser mais como elas.
Há alturas, também, em que penso que esta loucura é o que me dá a sanidade. Que é por rir demasiado que encaro os problemas com olhos diferentes. Que é por brincar demasiado que me esqueço que nem sempre me apetece rir, que é por exteriorizar demasiado umas coisas que consigo guardar outras só para mim, que é por falar demasiado que me sinto, quase sempre, leve.
E depois volto a perguntar-me se algum dia serei plenamente normal, se algum dia serei como a Ana, a Teresa, a Maria, se algum dia terei a sorte que elas têm. Volto a perguntar-me se algum dia serei como elas. É que mesmo que eu lute mais e encare melhor os problemas com a minha loucura, ela não me serve de nada se a Ana, a Teresa e a Maria conseguirem tudo e eu não.
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