quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Procurem-me na multidão!

Procurem-me pela essência singular, pelo espírito desassossegado, pelo sorriso destemido. Procurem-me pela vontade de quebrar barreiras, de fugir sem olhar para trás, de largar. Procurem-me porque sou diferente. Ou não me procurem. Procurem-me ou deixem-me ser levada pela multidão de passos mecanizados, pela segurança da corrente que é tão forte que não sei escapar. Vejo noites caírem-me aos pés enquanto o peso dos meus sapatos se torna mais e mais insuportável. Procurem-me! Os meus olhos já não aguentam separar-se de outros que, de mãos dadas e sorriso rasgado, rompem a multidão na direção oposta. Procurem-me! A multidão já encolheu demais e já não sei caminhar nos meus passos. Procurem-me ou não me procurem. Acabem com esta ilusão de ser diferente quando sou mais um exemplar da mesma serie de tantos outros. Procurem-me! Por não ter uma essência singular, pelo espírito desassossegado que não sabe mais do que se resignar. Procurem-me porque sou igual. Ou não me procurem!

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