Deviam guardar vidas em livros, armazena-las em colecções, guarda-las para sempre, infinitamente, numa biblioteca de vários andares, enormes escadas em caracol. Deviam ter capas duras, os livros, com mais ou menos páginas e sem títulos. Detesto títulos. Deviam guardar vidas em livros, entre palavras, imagens, histórias e pessoas. E assim, quando um capítulo chegasse ao fim, podíamos ler e reler e voltar a ler vezes sem conta. Quando a saudade apertasse podíamos matá-la nas historias, tocar as páginas até ficarem gastas. Deviam ter cheiros, também, os livros. E recortes e marcas de batom e pétalas de flores. As vidas deviam ser guardadas em livros. Não em filmes, em livros, como se fossem pedacinhos de almas guardados e empoeirados pela eternidade. E assim, quando nos esquecessemos de como é ser-se feliz subíamos a escada em caracol, procurávamos a nossa vida entre a da Ana, a da Bianca, a da Catarina, a da Diana e a do Zé, sacudíamos o pó e... Deviam guardar vidas em livros...
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