A pior cegueira é a de quem vê. De quem não consegue ver
para além do que olhos mostram, de quem não consegue chegar onde a visão não
alcança. O pior cego é o que não vê de olhos fechados, que sente um mundo superior
de olhos abertos. Que vê demasiado, deturpa, e diz ver o que não viu na
realidade. Quem vê demasiado acha-se demasiado por ver e não acredita no que
não viu. Quem não vê, às vezes, vê mais além, melhor. Ver é um dom que muitos
não agradecem, um fardo que outros tantos quase não aguentam. Não ver é a
doença dos olhos mas, para muitos, ver é a doença da alma.
segunda-feira, 12 de março de 2012
quinta-feira, 8 de março de 2012
Detesto textos moralistas, onde é fácil ter opinião contra e
difícil reconhecer quando se é a favor. Detesto textos de pessoas que escolhem
assuntos da actualidade para se fazerem passar por mais eruditos do que são na
realidade. Detesto textos de quem critica, aponta o dedo às coisas sem se
preocupar em arranjar soluções para que funcionem melhor. Ter personalidade
vincada está na moda e detesto textos de quem finge uma personalidade que
não tem. Detesto textos cheios de ‘eu ajudei’, ‘eu dei’, ‘eu fiz’, ‘eu falei’, ‘eu
decidi’. Gosto de textos do ‘eu’, sim, mas daqueles onde o ‘eu’ é acessório e o
importante não é o que ‘eu’ fiz para ajudar, mas quem ‘eu' ajudei. Em que o importante
não é ‘eu’ ter dado, mas a história de quem recebeu. Em que, mais importante do que
aquilo que se parece ser é a genuinidade do que se é. Não gosto do ‘eu’ nas minhas
frases, também. Acho que as torna egoístas e egocêntricas e tento não o usar. Mas
é que, às vezes, por detestar com tanta força esses moralismos baratos, tenho
medo de que também me possam ver assim.
sexta-feira, 2 de março de 2012
Para Sempre
Há pessoas que são nossas Para Sempre.
Aquelas que sabemos, bem no fundinho do peito, que não vão a lado nenhum. As que
já conhecem tanto de nós que podemos ser genuínos, baixar as defesas sem ter
medo que fujam. Que nos conhecem os defeitos de trás para a frente e que, quando
estamos vermelhos de fúria, se riem na nossa cara e nos obrigam a rir também.
Toda a gente tem amigos para sempre. A diferença está no conceito de ‘sempre’. ‘Sempre’
não é o mesmo que sairmos juntos umas noites, não é estar quando há um
objectivo comum, não são demonstrações de amizade no facebook, não é ligar
quando precisamos de companhia enquanto esperamos por outras pessoas. Não é
estar com alguém enquanto é interessante. 'Sempre' é muito mais. É chamar os
nomes mais parvos aos amigos e virar leão quando alguém os ataca. É escrever
emails de quilómetros a contar o dia-a-dia, quando o trabalho nos impede de
fazê-lo pessoalmente. É passar dias, meses sem nos vermos e sentir que,
quando nos encontramos, não passou um segundo desde a última vez. 'Sempre' é
irmos a correr encontrar aquela parte de nós que mais precisa. É ouvirmos ‘não
te preocupes que vai ficar tudo bem’ quando sentimos o chão a fugir dos pés. É
percorrermos quilómetros para passar um fim-de-semana com aquela pessoa, fazer
viagens de uma hora para podermos conversar 15 minutos. É estar quando é
interessante, quando nos insulta, quando está triste, quando está mais feliz
que nós. 'Sempre' são segredos, gargalhadas e olhares que mais ninguém entende e
nem queremos que entenda. É um gostar que vem de dentro e não se sabe explicar.
Ninguém gosta de todas as pessoas da mesma maneira mas eu acredito cegamente
que é possível gostar da mesma pessoa de muitas maneiras. E para mim não há
dois conceitos de 'Sempre'. ‘Sempre’ é Para Sempre e há pessoas que são nossas Para
Sempre.
Subscrever:
Mensagens (Atom)