Hoje, pela primeira vez em muito tempo, vi pessoas. Não corri de um lado para o outro como habitualmente costumo fazer. Vi pessoas, não me bastou olha-las. Fixei os olhos e vi-as nitidamente com os olhos e com a alma. Eram tantas, tão diferentes. Umas num corre-corre desenfreado que me fez sorrir por ver um bocadinho do que sou naquela vontade de chegar rápido. Outras, sem pressa, caminhavam acompanhadas. Contavam as desventuras amorosas de um parente afastado ou de uma vizinha mais atrevida. Vi homens, mulheres, altos, baixos, sorridentes, sisudos.Hoje imaginei as Histórias por detrás das figuras daquelas pessoas, imaginei as vidas, os nomes, os sentimentos. Imaginei a casa daquele senhor de casaco preto desbotado que atravessou a estrada com dificuldade mesmo à minha frente. Perguntei-me se aquela senhora de cabelos brancos teria filhos. Dobrou a esquina tão rapidamente que quase tocou no ombro do pobre senhor sem sequer reparar que ele existe.
Hoje vi pessoas, mas hoje vi-as mais do que o meu olhar pode alcançar.