sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Para Carnaxide, Por favor!

Acabamos de deixar a estação do Oriente e iamos encontrar-te. Eu e quem sempre trago comigo para todo lado. Onde quer que vá, pela enésima vez, tenho certeza que vai lá estar. "É do outro lado da cidade", dizia. Eu não me importava. Até podia ser do outro lado do mundo que iamos conseguir chegar, do mesmo modo. As imagens passavam na minha cabeça como um filme. Passavam e passavam e voltavam a passar com mais força. Os dias de praia no Estoril. Os jogos com algas. A falta e o excesso de coragem para mergulhar. As brincadeiras na água. A Val, a Rô, a Cassi. O sol, as manchas, a areia. A "nossa" pulseira. As personalidades que aos poucos iam brotando do nosso interior. Oeiras e o meu encontro com a alforreca gigante. O semi-rápido para Algés e o autódromo do Estoril (que é mesmo, mesmo espectacular). Os segredos e as noites na varanda. O vento e o espanta-espiritos onde sempre batiamos com a cabeça. O dino. O jantar com velas. A noite na esplanada. O Bairro alto, o jelly shot, a tequilla, o vinho do Porto e os jogos engraçados. Ainda sorrio quando lembro daquela "nossa" ruela. Tanta coisa, tanta...
Sozinha, entrei no autocarro para o Marquês. Tentei, tentei com muita força olhar para a frente por saber que ia morrer um pouco ao ver aquele meu pedacinho ficar para trás. Tentei, mas não...

Ela tocou-me no braço. Abri os olhos, olhei pela janela e o comboio seguia a grande velocidade. "Obrigada" disse o revisor enquanto me devolvia o bilhete. "Origem: Lisboa Santa Apolónia. Destino: Porto Campanhã".
Pelo menos não foi só um sonho.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Já tenho um bocadinho de Saudades.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Espera

Era a primeira vez que os via naquela sala de espera. Àquela mãe, e aos três filhos. Talvez a culpa seja minha por não gostar muito daquele lugar e só o frequentar quando é realmente necessário. A menina, asiática e muito bonita tinha longos cabelos negros e olhos amendoados. O outro irmão não tinha mais de seis anos. Era loiro e vestia uns calçõezinhos e uma t-shirt iguais aos do mais pequeno. Esse sim, irrequieto. Chorava sem parar. A mãe tentava acalmá-lo, inventava mil e uma formas de o distrair mas que só aumentavam o berro que saia directo da garganta. A irmã, segurava-o no colo, abanava-o, brincava com ele, mas depressa aquele som voltava a encher, a já cheia, sala de espera. O irmão do meio estava sentado numa das cadeiras mais longe da mãe. Muito calado, deliciava-se com o horóscopo que ia vendo na televisão. O mais pequeno continuava a chorar. As pessoas começavam a olhar e a mãe dava os primeiros sinais de desespero. O outro, tirou os olhos da televisão, levantou-se e foi buscar o irmão para o colo.

- Eduardo, se o teu irmão sair daí vou-te bater.
- Logo que não lhe batas a ele...

O menino ficou ali, parado, agarrado aos braços do irmão. Não se ouviu mais uma mosca na sala de espera. E eu, paralisei com a resposta.